Por Guilherme Xavier [EquipaCare]
Imagine que você acabou de adquirir um excelente equipamento de ressonância magnética, e recebeu da empresa fornecedora um manual de instalação de 50 páginas e centenas de recomendações técnicas. Pois é, equipamentos dessa magnitude, infelizmente ainda não funcionam apenas “plugando na tomada”. Então, o jeito é estudar todas as recomendações ou contratar alguém com experiência que se responsabilize por supervisionar o projeto.
Mas, como esse é um dos equipamentos de instalação mais complicada e que gera mais dúvidas durante a construção hospitalar, preparamos 10 dicas úteis sobre os problemas mais frequentes. Confira:
1) Local da sala de exames
A definição na planta arquitetônica do local onde se pretende instalar o equipamento de RM é de suma importância, começando pela observação das distâncias mínimas entre o isocentro do magneto (corpo da máquina) até locais com massas metálicas em movimento como elevadores, garagem ou passagem de automóveis. Do contrário, o local pode não atender às condições técnicas de funcionamento, já que a RM funciona como um poderoso ímã que sofre interferências podendo afetar bastante a qualidade dos exames. ada fabricante possui sua tabela de distâncias mínimas para evitar interferência.
2) Local da sala de comando
Outro problema comum encontrado nos projetos arquitetônicos é o posicionamento inadequado da sala de comandos em relação ao eixo da RM, como por exemplo, posicionada em paralelo à mesa de exames.
Esta posição está incorreta, pois é importante que o operador da máquina tenha total visão do paciente dentro do túnel. Veja no desenho abaixo como a visão do operador fica prejudicada nessas condições.
3) Rota de acesso
A ressonância magnética é um dos maiores e mais pesados equipamentos que serão entregues durante a montagem de um novo hospital. O magneto pode pesar até 6.000 Kg e ter dimensões bastante avantajadas, suficientes para que não passe por nenhuma das portas. Portanto, é fundamental que desde a fase de projetos seja planejada a rota de entrada do equipamento.
Para entrada da RM são necessárias passagens com vão livre de até 2,5m x 2,5m (alt. x larg.) e corredores de até 2,5m x 2,0m (alt. x larg.) Significa que será necessário deixar algumas paredes e portas sem execução até que a máquina entre e seja posicionada.
4) Tubo Quench
Para o funcionamento da ressonância magnética é necessário fazer circular em bobinas (condutores enrolados) uma alta corrente elétrica para gerar um alto campo magnético. Mas, para que esta alta corrente elétrica seja possível sem aquecimento, é necessário resfriar os condutores com gás hélio em baixíssima temperatura, na sua forma liquida criogênica.
Quando há algum problema na máquina ou alguma outra emergência que requeira a diminuição imediata do campo magnético, este gás hélio deve ser esgotado através de um duto especial chamado de “Tubo Quench”, ou Duto de Exaustão de Emergência.
Ocorre frequentemente que a existência deste tubo não é considerada durante a fase de projeto o que dificulta muito na instalação, pois depois que o prédio está quase pronto, torna-se difícil viabilizar o caminho do tubo da sala de exames até alguma área externa superior ou lateral superior do edifício. Portanto, este requisito deve ser considerado desde a fase de projetos, sendo resolvido normalmente pela criação de shaft para passagem do tubo.
5) Circuito de água gelada
Como citado anteriormente, os imãs da ressonância magnética são resfriados com gás hélio em sua forma líquida, à baixíssimas temperaturas (- 268,93°C). Para manter este gás resfriado é utilizado sistema de resfriamento à água, ou seja, chillers.
Logo, é necessário prever no projeto área técnica externa para instalação desse sistema e planejar o percurso das linhas de água gelada que vão do chiller até a sala técnica da RM. Algumas vezes é possível utilizar o mesmo shaft criado para passagem do Tubo Quench para a passagem dessas linhas de água gelada.
Confira na foto, 02 Chillers instalados em piso técnico, e a saída das linhas de água gelada que chegam até a sala técnica.
6) Climatização
Outro item de grande importância para a instalação de uma RM é a climatização dos ambientes. Como é requisitado controle especial de temperatura e umidade para os ambientes e como cada modelo possui suas especificidades e dissipações térmicas diferentes, é necessário contratar um projetista para auxiliar a especificar e adquirir máquinas de ar-condicionado apropriadas.
No entanto, o problema de maior atenção não está relacionado com a contratação desse projetista,mas sim, com a falta de previsão em projeto do local adequado para a instalação dessa máquina de ar-condicionado, em distância mais ou menos próxima da sala de exames.
Quando não é prevista sala de máquinas próxima à sala de exames, a tendência é que se tenha grandes dificuldades e interferências para passagem e compatibilização dos dutos de ar. Veja na foto ao lado como são grandes esses dutos e imagine como pode ser difícil conduzir os mesmos por distâncias maiores.
7) Piso da sala de exames
Todas as salas de exames precisam de uma cabine de radiofrequência (RF), também chamada de blindagem de RF ou gaiola de faraday. Esta consiste normalmente numa caixa de alumínio ou outro material similar, e serve para evitar que ondas de radiofrequência externas entrem causando interferências na geração dos sinais e funcionamento da ressonância.
A caixa da cabine de RF tem espessura significativa, portanto, para que o piso acabado da sala de exames após a instalação da cabine fique no mesmo nível do piso do corredor, normalmente é necessário que o contrapiso (base) da sala de exames seja feito 04 cm abaixo da altura do piso do corredor, caso a porta abra para dentro, ou 03 cm abaixo do corredor, caso a porta da sala de exames abra para fora.
Geralmente o gerente de obras desconhece o requisito desta diferença de nível, causando atraso e retrabalho na obra.
8) Instalações acima e abaixo da sala de exames de RM
Outro problema que ocorre bastante na instalação de RM e que acabam gerando perdas e retrabalho é a passagem de instalações diversas pelo entreforro acima da sala de exames de RM. Porém, não é permitida a passagem de nenhuma instalação quer seja calha elétrica, duto de ar-condicionado, gases e, muito menos, tubulação hidráulica passando por cima da cabine de RF. Todas essas instalações devem contornar (dar a volta) e nunca passar por sobre a sala de exames.
Por conta deste requisito, é proibitivo que no pavimento logo acima da sala de exames de RM se tenham ambientes como: central de material esterilizado, vestiário com banheiros do centro cirúrgico, dentre outras áreas com muitas instalações hidráulicas que ofereceriam um risco sério à integridade da RM. Também, não é permitido que haja nem acima nem abaixo da sala de exames de RM, equipamentos pesados, como: geradores, máquinas de ar-condicionado, equipamentos de lavanderia, esterilização, ou qualquer motor elétrico de potencia mais elevada.
Para melhor compreensão de todas essas exigências espaciais, podemos observar a ilustração abaixo, que mostra a distribuição do campo magnético produzido por uma RM no eixo vertical.
9) Iluminação da sala de comando
O projeto de iluminação da sala de comandos é de responsabilidade do cliente, ou melhor, da empresa de projetos elétricos contratada, e por isso, este é um tópico que acaba não sendo muito bem especificado no manual de instalação da RM, nem supervisionado pela empresa fornecedora.
A iluminação da sala de comando deve ser dimerizável, ou seja, com controle de intensidade para que seja possível deixar o ambiente em penumbra ideal para trabalho e visualização dos monitores especiais que ali são utilizados.
A iluminação ideal deve ser estável (sem oscilação), podendo ser adotado valor nominal máximo de 300 lux, para limpeza e manutenção, mas durante o trabalho com monitores deve permitir a redução da intensidade para ordem de 10 a 30 lux (penumbra). Também é importante que na sala não possua janelas ou outras luminárias que possam provocar reflexão indesejada nos monitores.
10) Acabamento da cabine de RF
Em todas as salas de exames de ressonância magnética precisam ser montadas cabines de proteção de radiofrequência, também chamadas de gaiolas. Essas gaiolas normalmente não vêm junto com o equipamento de RM e devem ser compradas de fabricantes especializados, que fornecerão sob encomenda de acordo com as especificações do modelo da ressonância.
Interessante comentar que a maioria dos hospitais adquire a gaiola no seu pacote de acabamento mais básico, que custa em torno de R$ 90 mil. Mas consideramos que encomendar alguns itens extras de acabamento são fundamentais para proporcionar um melhor resultado. Compare as fotos abaixo:
Dentro de um contexto de investimento da ordem de 2 a 3 milhões de reais, gastar apenas 15 ou 20 mil reais a mais no acabamento da gaiola não só confere humanização ao serviço médico, como valoriza todo o conjunto, inclusive fazendo parecer que o serviço de imagem e o equipamento é “mais moderno”, mesmo que se trate de um modelo de ressonância magnética básico.
Comments